TONEL DO ÓDIO
O Ódio é o tonel das pálidas Denaides frias;
Por mais que da Vingança o braço rubro e forte
Derrame-lhe às entranhas ermas e sombrias
Baldes cheios de sangue e lágrimas da morte,
O Diabo lhe abre furos nunca imaginados,
Que verteriam séculos de esforço e suor,
Mesmo que à vida ela trouxesse os condenados
Para o corpo infligir-lhes castigo maior.
O Ódio é um ébrio perdido ao fundo da taverna,
Que sente sua sede emergir do licor
E ali multiplicar-se qual hidra de Lerna.
- Mas quem bebe feliz verá seu vencedor,
E ao Ódio resta apenas a amarga certeza
De saber que jamais dormirá sob a mesa.
Charles Baudelaire (1821 - 1867)
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