O Demônio em meu quarto salta
Esta manhã para me ver
E, tentando apanhar-me em falta,
Diz-me: "Eu só queria saber,
Entre todas as coisas raras
De que é pródigo seu feitiço,
Entre as jóias negras ou claras
Que ao corpo lhe dão tanto viço,
Qual a mais sublime."- ó minha alma!
Respondeste ao Tinhoso então:
"Porque Ela é um bálsamo que acalma,
Não pode haver predileção.
E como tudo me extasia,
Não sei se nela algo me enfara.
Ela deslumbra como o Dia
E como a Noite nos ampara.
Seu corpo esplêndido é regido
Por harmonias tão concordes
Que nunca pôde o humano ouvido
Escolher um dentre os acordes.
Ó mística transmutação
Que os sentidos num só resume!
Seu hálito faz a canção
E sua voz faz o perfume!"
Charles Baudelaire (1821 - 1867)
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