sexta-feira, 28 de março de 2008

Fado Contrário

NUM ÁLBUM


DIZ À FLOR a borboleta:
"Vamos, irmã, tudo é luz!
Há muito prisma doirado
Que pelos ares transluz...
Tuas pétalas são asas...
Das nuvens nas tênues gazas,
D'aurora nos seios nus
Tens um ninho entre perfumes...
Vamos boiar, entre lumes
Desses páramos azuis".


A linda filha dos ares,
Responde a silvestre flor:
"Eu amo o gemer das auras
E o beijo do beija-flor...
Se és do céu a violeta,
Sigo um destino menor.
Buscas o céu — eu a alfombra,
Queres a luz — quero a sombra,
Pedes glória — eu peço amor.

Castro Alves (
1847 - 1871)

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