À falta da pessoa,
hoje amarei a ausência também do sentimento antigo
e lembrarei que os dias já foram azuis
e as noites somente escuras
quando desconhecíamos a palavra medo
e não sentíamos medo.
Amarei o antigo sentimento da ternura casta
palpável, àquele tempo, em mim,
distribuída entre os aposentos da casa enorme,
os três degraus da entrada
o sol nascendo pelos punhos da rede
e o muro do colégio das freiras, quente.
(que estas lembranças me bastam)
Porque não há a pessoa
e eu caminho só e triste pelas calçadas do Rio
e não chego a nenhum destino, porque não tenho destino,
eu hoje amarei a distância que separa eu menino
de mim desesperado, aqui
e me perderei pelos caminhos enrolados uns nos outros
e rolarei de gozo sobre a minha sombra
e chorarei depois porque não sei voltar
Torquato Neto (1944 - 1972)
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