Minha juventude não foi senão um tenebroso furacão,
Salpicado aqui e ali por alguns sóis dourados;
Torrentes de chuva fizeram tanta e tal destruição,
Que restam em meu pomar poucos frutos sazonados.
Eis que cheguei ao outono do pensamento,
E foi preciso usar pás e picaretas
Para renovar as terras em desalento,
Onde a água fura tumbas, buracos e valetas.
E quem sabe se neste solo, lavado e arenoso,
As novas flores com que sonho encontrarão
O místico alimento que o fará vigoroso?
- Que dor! oh que dor! O Tempo, a vida devora
E o obscuro inimigo que nos corrói o coração
Do sangue que perdemos, cresce e se revigora.
Charles Baudelaire (1821 - 1867)
Nenhum comentário:
Postar um comentário