quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Anelo

Só aos lábios o reveles,
Pois o vulgo zomba logo:
Quero louvar o vivente
Que aspira a morte no fogo.

Na noite em que te geraram, 
Na noite que geraste, sentiste,
Se calma a luz que alumiava,
Um desconforto bem triste.

Não sofres ficar nas trevas
Onde a sombra se condensa.
E te fascinas o desejo 
De comunhão mais intensa.

Não te detem as distâncias, 
Ó mariposa! e nas tardes, 
Á vida de luz e chama,
Voas para a luz em que ardes.

"Morre e transmuda-te:" enquanto 
Não cumpres esse destino, 
És sobre a terra sombria
Qual sombrio peregrino.

Como vem da cana o sumo 
Que os paladares adoça,
Flua assim da minha pena
Flua o amor o quanto possa.

Tradução de Manuel Bandeira

Johann Wolfgang von Goethe  (1749 - 1832)

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