Tu pensas na flor que nasce Menos bela do que tu! Na borboleta vivace Beijando teu colo nu! No raio da lua algente Que bebe no teu olhar ... Como um cisne alvinitente No cálix do nenufar. Nas orvalhadas cantigas Destas selvagens manhãs... Nas flores - tuas amigas! Nas pombas - tuas írmãs! Tu pensas, é Fiorentina, No gênio de teu país... Que uma harpa soberba afina Em cada seio de atriz. Na esteira de luz que arrasta A glória no louco afã! Nos diademas da Pasta... Nas palmas de Malibran! Pensas nos climas distantes Que um sol vermelho queimou... Nesses mares ofegantes Que o teu navio cortou! Na bruma que lá s'escoa... Na estrela que morre além... Na Santa que te abençoa,... Na Santa que te quer bem!... Tu pensas n’Arte sagrada, Nesta severa mulher... Mais que Débora inspirada... Mais rutilante que Ester. Tu pensas em mil quimeras, Nos orientes do amor. No vacilar das esferas Pelas noites de languor. Nalgum sonho peregrino Que o teu ideal criou. Na vassalagem, no hino... Que a multidão te atirou! Neste condão que teus dedos Têm de domar os leões... No pipilar de uns segredos, No musgo dos corações... No livro - que tens no colo! Nos versos - que tens aos pés! Nos belos gelos do pólo... Como teus seios cruéis. Pensas em tudo que é belo, Puro, brilhante, ideal... No teu soberbo cabelo! No teu dorso escultural! Nos tesouros de ventura Que a um'alma podias dar; No alento da boca pura... Na graça do puro olhar... Pensas em tudo que é nobre, Que entorna luz e fulgor! Nas minas, que o mar encobre! Nas avarezas do amor! Pensas em tudo que invade O seio de um Querubim!... Deus! Amor! Felicidade! ... Só tu não pensas em mim!... Castro Alves (1847 - 1871)
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