terça-feira, 14 de abril de 2009

A Fome e o Amor

A um monstro

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta, 
Receando outras mandíbulas a esbangem, 
Os dentes antropófagos que rangem, 
Antes da refeição sanguinolenta!

Amor! E a satiríasis sedenta, 
Rugindo, enquanto as almas se confrangem, 
Todas as danações sexuais que abrangem 
A apolínica besta famulenta! 

Ambos assim, tragando a ambiência vasta, 
No desembestamento que os arrasta, 
Superexcitadíssimos, os dois

Representam, no ardor dos seus assomos 
A alegoria do que outrora fomos 
E a imagem bronca do que inda hoje sois!

Augusto dos Anjos (1884 - 1914)


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