Bizarra divindade, cor da noite escura,
Cujo perfume sabe a almíscar e a havana,
Obra de algum obi, o Fausto da savana,
Feiticeira sombria, criança de hora impura,
Prefiro ao ópio, ao vinho, à bêbeda loucura,
O elixir dessa boca onde o amor se engalana;
Se meus desejos vão a ti em caravana,
É do frescor dos olhos teus que ando à procura.
Que esses dois olhos negros, poros de tua alma,
Ó demônio impiedoso! Às chamas tragam calma;
Não sou Estige para lúbrico abraçar-te,
Eu não posso, ai de mim, ó Megera sensual,
Para dobrar-te a fúria e à parede encostar-te,
Qual Prosérpina arder em teu leito infernal.
Charles Baudelaire (1821 - 1867)
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