sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quantas vezes amor, me tens ferido?

Quantas vezes , Amor, me tens ferido ? 
Quantas vezes, Razão, me tens curado ?
 
Quão fácil de um estado a outro estado
 
O mortal sem querer é conduzido !

Tal, que em grau venerando, alto e luzido, 
Como que até reagia a mão do fado,
 
Onde o sol, bem de todos, lhe é vedado
 
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte, 
Que variedade inclui esta medida,
 
Este intervalo de existência à morte !

Travam-se gosto, e dor ; sossego, e lida ; 
É da lei da Natureza ,é lei da sorte
 
Que seja o mal e o bem matriz da vida.

Bocage (1765 - 1805)

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