Quantas vezes , Amor, me tens ferido ?
Quantas vezes, Razão, me tens curado ?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido !
Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até reagia a mão do fado,
Onde o sol, bem de todos, lhe é vedado
Depois com ferros vis se vê cingido:
Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo de existência à morte !
Travam-se gosto, e dor ; sossego, e lida ;
É da lei da Natureza ,é lei da sorte
Que seja o mal e o bem matriz da vida.
Bocage (1765 - 1805)
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